Por que somos fascinados por crimes e segredos?
- M.S.Vieira
- 24 de jul.
- 2 min de leitura

Sempre me perguntei por que o escuro nos atrai tanto. Não o escuro literal, mas aquele que vive nos corredores das histórias que escolhemos ler — crimes, mistérios, desaparecimentos, segredos enterrados sob sorrisos.
É curioso pensar que, mesmo vivendo rotinas tranquilas, somos seduzidos por aquilo que desestabiliza: a possibilidade de que alguém possa mentir bem demais, amar de menos, ferir em silêncio. Somos criaturas fascinadas pelo que se esconde.
Talvez porque a ordem seja insuportável.
Num mundo onde tudo tende a ser explicado, etiquetado, controlado, o crime nos devolve o inesperado. Um corpo encontrado num campo sem rastros. Um vizinho que parecia normal demais. Um segredo antigo que ressurge depois de décadas, com cheiro de mofo e tragédia. Esses enredos nos puxam para fora do previsível — e isso, curiosamente, nos acalma.
Crimes reais nos assustam, sim, mas também nos provocam uma estranha sensação de controle: vemos de fora, a salvo, como quem olha uma tempestade de dentro de casa. Já os crimes ficcionais, como os dos livros e filmes, são espaços onde podemos explorar nossos medos sem correr risco. É uma forma de espiar o abismo — mas com uma lanterna nas mãos.
E os segredos... ah, os segredos. Esses, por vezes, são mais viciantes que qualquer crime. Porque todos temos os nossos. Uns pequenos, quase bobos. Outros que moram em gavetas trancadas, guardados com um zelo quase religioso. A ideia de que alguém possa esconder algo — e de que talvez sejamos nós os únicos a perceber — é irresistível.
Talvez por isso gostemos tanto de histórias onde há algo fora do lugar, uma pista esquecida, um detalhe que não encaixa. Não buscamos só o culpado. Buscamos sentido.
Gosto de pensar que esse fascínio revela algo mais profundo: uma vontade de entender a natureza humana em sua totalidade — não só na luz, mas também nas sombras. Os crimes nos lembram do que somos capazes. Os segredos, do que tentamos esconder de nós mesmos. E, entre uma página e outra, descobrimos um pouco mais sobre quem somos.
E tu? Já te perguntaste por que voltas sempre para essas histórias?
Se há algum crime, segredo ou medo que te persegue em silêncio, conta-me. Aqui, neste pequeno canto de palavras, tudo o que é oculto encontra um lugar para respirar.
Eu estarei do outro lado da tela, lendo como quem recolhe pistas deixadas no escuro.
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