O Pote de Mel e o Natal Esquecido
- M.S.Vieira
- 19 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

Na pequena aldeia de Belaviva, onde as montanhas pareciam abraçar o céu, havia uma tradição natalina simples e doce: cada família colocava um pote de mel em frente à porta de casa na véspera de Natal. Era um gesto antigo, que ninguém sabia ao certo de onde vinha, mas que significava compartilhar doçura e bondade com quem passasse.
Esse ano, porém, a aldeia estava diferente. Todos estavam ocupados com seus próprios preparativos: presentes caros, árvores enfeitadas, e festas planejadas ao detalhe. O Natal, que antes era simples, tinha se transformado em algo cheio de correria e vaidade. Ninguém mais se lembrava do pote de mel.
Exceto por Pedro.
Pedro era um menino de apenas oito anos, curioso e com olhos que brilhavam ao ouvir histórias. Sua avó, antes de partir para o céu dois anos atrás, contava-lhe sobre um Natal diferente. Um Natal onde as pessoas celebravam não as luzes das vitrines, mas a luz de um menino nascido em uma manjedoura, trazendo esperança ao mundo. E o mel? Ah, o mel era para lembrar que a bondade que compartilhamos é como o mel — doce, mas só faz sentido quando é repartida.
Naquela véspera de Natal, Pedro, olhando pela janela de sua casinha humilde, viu como a aldeia estava agitada. Mas, algo dentro dele dizia que faltava algo. Ele correu até a pequena despensa da casa e encontrou um velho pote de mel, quase vazio, que sua mãe usava raramente. Sem pensar duas vezes, ele pegou o pote, colocou-o em frente à porta, como a avó ensinara, e fez uma oração silenciosa:
“Menino Jesus, se esta aldeia esqueceu do Natal verdadeiro, ajude-nos a lembrar.”
A noite caiu, e enquanto as famílias festejavam em suas casas, uma estranha e doce fragrância começou a tomar as ruas. Era um cheiro de mel, mas não era comum. Era tão doce que parecia carregar memórias e sentimentos. As pessoas, curiosas, saíram de suas casas para ver de onde vinha. E então, um a um, notaram o pequeno pote de mel na frente da casa de Pedro.
— Quem colocou isso aqui? — perguntou Dona Luisa, a vizinha.
Pedro, com o coração acelerado, saiu pela porta.
— Fui eu. Para o Menino Jesus. Minha avó dizia que o mel era para lembrarmos de sermos bons uns com os outros.
O silêncio tomou conta da multidão. As palavras do menino perfuraram o ruído de suas festas e lembraram-lhes de algo que tinham esquecido: o Natal era sobre partilhar, sobre o amor puro e simples, sobre o menino que nasceu e morreu por nós.
Naquela mesma noite, cada casa, mesmo com a correria, achou um jeito de colocar um pote de mel à porta. E mais do que isso, lembraram-se do presépio, e de partilhar histórias, risos e orações. As montanhas de Belaviva nunca haviam testemunhado tanta alegria genuína.
No dia seguinte, Pedro acordou e encontrou algo mágico: o pote de mel quase vazio que ele colocara na porta estava cheio, mas não de mel comum. Era como se o Menino Jesus tivesse retribuído o gesto com um mel celestial, que nunca se esgotava. A notícia correu rápido, e o pote de Pedro se tornou símbolo da renovação da fé e da verdadeira essência do Natal.
Desde então, Belaviva voltou a celebrar o Natal com mel, mas não só. Celebravam com corações doces e generosos, lembrando sempre que o maior presente do Natal nasceu em uma manjedoura, morreu por nós e vive para sempre.
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